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EXISTE UM OCEANO NO INTERIOR DO PLANETA TERRA? 

A Terra é o único planeta do Sistema Solar coberto por água líquida em sua superfície. Por conta disso, também o chamamos carinhosamente de planeta azul (quando vista do espaço sideral, o planeta parece azulado). Mas e quanto ao seu interior? Como sabemos como é a Terra internamente, e o que está acontecendo a milhares de quilômetros embaixo dos nossos pés?   

Apesar de não conseguirmos enxergar o enigmático interior da Terra, podemos inferir como a Terra é por dentro através de ondas sísmicas, que são capazes de se mover através dos materiais em diferentes profundidades, sondando as estruturas da invisível Terra profunda, dando-nos informações sobre suas características.   

A partir de investigações sísmicas feitas para se compreender melhor a estrutura interna da Terra, os cientistas descobriram que existe uma descontinuidade na fronteira entre o manto inferior e superior da Terra. Além disso, também perceberam que as análises geoquímicas de rochas do manto superior têm exibido uma assinatura química inconsistente com a da região que se acreditava representar o manto inferior. Em outras palavras, isso significa que o manto superior e inferior podem ser quimicamente diferentes, mas será?  

Para entender melhor e solucionar essa questão, é fundamental estudar amostras formadas na zona de transição entre o manto superior e inferior, a 660 km de profundidade, e que acabaram subindo para a superfície do nosso planeta devido a sua dinâmica tectônica. 

Entretanto, a maioria das dessas amostras provindas do interior da Terra são alteradas e suas informações químicas originais são perdidas, principalmente, por conta de suas interações com o meio ambiente. Mas nem tudo está perdido:  apesar de inclusões (impurezas de outros minerais) dentro de diamantes serem uma preocupação por reduzirem seu valor comercial por parecerem uma mancha escura dentro da pedra, eles podem abrigar assinaturas geológicas capazes de nos ajudar a interpretar o interior invisível da Terra e sua história geológica. 

Os diamantes podem envolver fragmentos de outros minerais provindos das profundezas da Terra, e protegê-los de modificações químicas em seu entorno por serem quimicamente inertes, preservando suas estruturas originais. Foi através de uma impureza contida em um diamante de 1,5 cm com qualidade de gema, que poderia parar em um anel qualquer de noivado, que os cientistas fizeram descobertas preciosas, que sugerem que o manto do nosso planeta contém água equivalente a oceanos.   

A impureza encontrada dentro do diamante em questão foi um fragmento de ringwoodita, formada aproximadamente a 660 km de profundidade, justamente no limite entre o manto superior e o inferior. Minerais densos como ringwoodite podem armazenar grandes quantidades de água ligada às moléculas que compõem sua estrutura mineral (hidroxilas), podendo facilmente ultrapassar em volume a água presente na superfície do planeta, já que provavelmente o manto contém grandes quantidades desse mineral. 

Em outras palavras, os minerais encontrados no diamante revelam a sua jornada através do manto terrestre e demonstram novas evidências da possível composição química do manto: de que a água, na forma de hidroxila, pode penetrar através deste limite além da descontinuidade de 660 km. Além disso, o fato de os minerais serem hidratados sugere que o diamante se formou na presença de água, embora nas profundezas do manto.  O que ainda é debatido pelos cientistas é até que profundidade essa água pode viajar.  

 

Como referenciar este conteúdo:  

SILVA, Carolina Nunes da. Evidências De Água No Manto Terrestre. Jovem Explorador, 20 dez. 2022. Disponível em: blog_agua-manto-da-terra>.   

 

Fontes consultadas:   

PEARSON, D. G.; BRENKER, Frank; NESTOLA, Fabrizio; MCNEIL, J.; NASDALA, L; HUTCHISON, M. T.; MATVEEV, S.; MATHER, K.; SILVERSMIT G.; SCHMITZ S.; VEKEMANS, B.; VINCZE L. Nature. DOI: 10.1038/nature13080 

TINGTING, Gu; PAMATO, Martha G.; NOVELLA, Davide; ALVARO, Matteo; FOURNELLE, John; BRENKER, Frank E. WANG, Wuyi; NESTOLA, Fabrizio. Hydrous peridotitic fragments of Earth’s mantle 660-km discontinuity sampled by a Diamond. Nature Geoscience. Vol.: 507, pages 221-224. DOI: 10.1038/s41561-022-01024-y